“Quando você acha que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas…”

terça-feira, maio 25

A EXISTÊNCIA DE DEUS por Monika Alves de Almeida Picanço*

INTRODUÇÃO:

I. A idéia instintiva de Deus no homem

O tema “existência de Deus” é polêmico e controverso. Segundo o coordenador da pós-graduação em Filosofia da Universidade São Judas Tadeu, tradutor e organizador do livro "Dez Provas da Existência de Deus", Plínio Junqueira Smith, “só no Brasil, hoje, 15% das pessoas, ou seja, mais de 20 milhões, são ateus”. No entanto, se nos debruçarmos com empenho sobre a questão, veremos que não é nada difícil provar a existência de Deus.

Apesar de suas limitações, o homem, desde sua infância, esforça-se por conhecer a Deus, ainda que de maneira instintiva. É assim em todas as raças, culturas e níveis de desenvolvimento. Em suas aflições, instintivamente, o homem busca algo ou um ser superior maior do que ele, perfeito, onisciente, onipresente, todo-poderoso e disponível a ele.

Para Erwin Lutzer, em seu livro "Sete Razões para Confiar na Bíblia", “o filósofo Ludwig Wittgenstein não cria na Bíblia, mas sabia que nós, seres humanos finitos, não podemos descobrir absolutos morais por nós mesmos. Disse que se um padrão ético objetivo existisse, deveria vir de um ser independente do universo.” Ainda na visão de Lutzer, “Friedrich Nietzsche disse com referência a Deus: ‘nós o matamos, mas quem limpará o sangue de nossas mãos?’ Sim, se Deus não existe ou é fundamentalmente irreconhecível, não temos resposta para nossa culpa nem para os anseios mais profundos de significado”.

Alguma coisa no caráter de uma pessoa o atrai para cima e para dentro de uma esfera invisível e perfeita. As Escrituras Sagradas chamam essa “alguma coisa” que existe no homem de “à imagem e semelhança de Deus”, a qual o Criador fixou na base de nosso ser espiritual (Cf. Gen. 1.27). Somente a existência desse parentesco entre a alma e seu Criador pode explicar porque pessoas inteiramente destituídas de educação religiosa e nas mais desfavoráveis circunstâncias, adquirem por si próprias gradualmente noções verdadeiras sobre Deus. É também considerável que Deus vem ao encontro dessas pessoas, que O procuram e de alguma maneira misteriosa Ele Se revela a elas.

As Escrituras Sagradas preservaram a memória de um curto e precioso período do surgimento da humanidade, quando Deus aparecia e dialogava com Adão e Eva, como um Pai dialoga com Seus filhos (Gên 2). Entre os primeiros habitantes não existia nenhum sinal de medo perante o Ser Superior, embora os ateístas afirmem repetidamente que a religião surgiu como resultado do medo instintivo dos seres humanos frente aos fenômenos naturais como furacões, maremotos, vulcões e outras catástrofes da natureza.

II. DEUS EXISTE? EIS A QUESTÃO...

“Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus”. (Sl 90.2)
“Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo”. (Jo 5.26)
“Disseram-lhe, pois, os judeus: ainda não tens cinqüenta anos e viste Abraão? Disse-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, Eu Sou”.(Jo 8. 57,58)
“Tu acreditas que há um Deus? Fazes muito bem. Os demônios também acreditam. E estremecem ao ouvir o Seu nome...” (Tiago 2.19)

A Religião e religiosidade não desapareceram, como pensavam cientistas, no século XIX e início do século XX, como Marx e Freud, por exemplo. Cultura e culto derivam de uma mesma palavra, “cultus”, que quer dizer adoração ao divino, a um Ser Supremo, a deusas e deuses. A crença em algum poder superior, misterioso, desconhecido é o fundamento da cultura, ainda que religiosidade e religião sejam produtos históricos, variem no tempo e no espaço. “Uma cultura depende da qualidade de seus deuses (...) tudo indica que a vida humana sentiu-se, sempre, diante de algo, melhor dito, sob algo.” (M. Zambrano).

A questão da religiosidade, afirmativa ou negativamente, está sempre posta à condição humana. Sejam as pessoas crentes em Deus (teístas), não crentes em Deus ou deuses, mas em uma causa ou um poder original (deístas); céticas, que não crêem em Deus e não acreditam “em nada”, ou pessoas que não acreditam em Deus e/ou o perseguem, como por exemplo, os satanistas (anti-teístas).

Na atualidade, mais de três quartos da população mundial consideram-se pertencentes a uma (ou mais de uma) religião. A ciência nos induz à lógica do vivo, do real, do que se toca, do que se pesquisa empiricamente. Porém, além, mais adiante da ciência, continua sendo necessário nos descobrirmos como parte da vida secreta ou misteriosa do mundo. Esta descoberta é necessária para não cairmos em um egoísmo e em uma filosofia que nega o sentido ou os sentidos da vida.

Para Sidney Silveira, membro da Sociedade Internacional Tomás de Aquino, “o problema da existência de Deus é o mais universal e necessário que existe. A ele todos nós, sem exceção, damos uma resposta: seja ateísta, agnóstica ou teísta”. E cita o filósofo espanhol Xavier Zubiri (1898-1983), para quem a mente humana pode colocar qualquer problema ou não (por exemplo, escolhe entre pensar ou não no Teorema de Pitágoras), mas um problema em especial existe e é tão necessário que a ele todos os homens estão condenados a dar uma resposta: a existência de Deus. Mesmo o agnóstico responde. Ele tem uma atitude suspensiva, diz que não tem como saber, mas responde.

O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) afirma que o problema mais radical para a metafísica é o seguinte: “por que há o ente e não o nada?”. Ou seja, qual é a explicação para o Universo? Por que não poderia haver o nada absoluto? “Tal indagação tem uma perspectiva claramente teológica, pois a sua resposta leva, direta ou indiretamente, ao problema da existência de Deus, ou seja: se há o ente, de onde ele provém?”, explica Silveira.

Muitos filósofos, de diferentes maneiras, acreditaram ter chegado à prova da existência de Deus. Para Aristóteles, há duas realidades: uma é a potência (possibilidade que certo ente tem de fazer isto ou aquilo); a outra é o ato (a operação realizada) e tudo é composto disso. Só a duas realidades a inteligência humana não teria acesso: a matéria-prima e o ato puro. Este último seria o Deus aristotélico. Mas esse Deus não teria qualquer contato com o mundo, nem pensaria nos homens, seria um Deus para o qual não se poderia nem rezar.

A história da Filosofia está repleta de pensadores que pretendem evidenciar ou realizar uma demonstração da existência de Deus. São exemplos: Platão, Aristóteles, Plotino, Anselmo de Cantuária, Santo Tomás, Duns Scot, Louis-Claude de Saint-Martin, Jacob Boheme, etc...

Para o teólogo francês Blaise Pascal, não há como afirmar ou negar Deus; é ato de fé. Mas, não há, na história da Filosofia, nenhuma demonstração da inexistência de Deus. Até o existencialismo ateu, em todas as suas vertentes, nega a Deus, a priori, mas não prova que Ele não existe!

Monika Alves de Almeida Picanço*

[Monika Alves de Almeida Picanço*Licencianda em Letras Port./Inglês (UNICID). Teóloga, Pós-graduanda em Filosofia. (Univ. Católica de Brasília). Mestranda em Teologia e Ciências Sociais da Religião. Cursa Apologética Cristã (Faculdade IBETEL). Jornalista (Cásper Líbero/SP). Radialista (SENAC e Radioficina/SP). Educadora, palestrante, cantora, compositora, poetisa. Lançou o CD Reações e participou de Antologias Poéticas, destacando-se em concursos culturais. Ativista do movimento de Poesia Independente, anos 1980/90, publicou o Fanzine Pipoca Arte e Cultura e os livros de poemas Canto Paralelo (Scortecci Ed.) e Sete Véus de Ísis (Monika Pi Ed.). Atuou em Jornalismo e Rádios Boa Nova AM e Tropical FM/SP. Escritora, autora do livro "Redescobrindo o ser ético: sociedade sem valor é ser humano sem amor.]

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